O LOBISOMEM DA RUA DA PEDREIRA, por Sandro Arlan
- Marcelo do Pará
- 17 de mai. de 2020
- 2 min de leitura

Aquela rua tem esse nome em razão de outrora ser o caminho que conduzia carroças, caçambas e caminhões para uma antiga pedreira, onde se retiravam as pedras para as construções das casas e obras públicas da Ilha de Mosqueiro e de Belém.
Também servia de passagem para muitos trabalhadores da Fábrica Bittar, uma das primeiras de beneficiamento de borracha do Brasil.
Contam os antigos moradores e alguns ex-trabalhadores daquela fábrica e da pedreira que sempre seguiam nas madrugadas para o trabalho em grupos e armados com facões e porretes. Ninguém ousava desrespeitar aquela regra, pois o mal estava à espreita. Um lobisomem que atacava os desavisados, dando uma surra e causando até a morte de alguns, deixando em pânico a população.
Naquele tempo, não havia energia elétrica e a usina que gerava energia só funcionava das 06h00 às 22h00. Nas demais horas era escuridão total e somente a Fábrica Bittar tinha seu próprio gerador de energia para abastecer as máquinas na produção da borracha.
Naquela madrugada chuvosa e fria, típica do inverno amazônico, seu Nicolau, um caboclo grande e forte, que além de ser operário da fábrica, também era zagueiro do Pedreira Esporte Clube, um time muito querido da nossa Ilha, perdera a hora do trabalho em razão da chuva torrencial, mesmo assim, resolveu ir sozinho. Pegou seu porrete e disse: seja o que Deus quiser, pediu proteção divina e saiu rumo ao seu trabalho. Ia sozinho naquela rua escura e enlameada com seu guarda-chuva, sua marmita e o porrete feito de acapu, quando em dado momento sentiu uma sensação estranha como se alguém ou alguma coisa estivesse lhe observando e o acompanhando, pegou seu porrete com firmeza, fez uma pequena oração e disse: agora pode vir, já estou preparado, parou, olhou para os lados e gritou: vem seu filho de uma égua, quero ver se você é mau mesmo. Sentiu um vulto se aproximando, fazendo grunhidos estranhos, tipo um animal muito feroz, não se via quase nada naquela noite sombria, quando aquele mau cheiro invadiu todo o espaço ao seu redor, era uma coisa horrível, insuportável, quando, de repente, lá estava bem à sua frente, a besta. Nicolau não pensou duas vezes, largou o guarda-chuva e a marmita e com seu porrete partiu com toda fúria pra cima da criatura que não houve tempo da fera reagir. Foram várias porretadas em segundos que só se ouvia os urros de dor daquele ser sobrenatural que não aguentando mais tamanha violência correu em direção da pedreira, enquanto Nicolau gritava enlouquecido: vem apanhar mais criatura do diabo, Deus é maior.
Aproveitando que o bicho sumira na escuridão, seguiu para o seu trabalho e ao chegar relatou o acontecido aos companheiros que disseram: não faça mais isso, dessa vez você teve sorte.
Continuaram na rotina do trabalho, até que por volta das 09h00 chegou a informação que seu Antônio, um homem muito estranho e que era vigia da pedreira, fora encontrado morto, todo desfigurado em meio às pedras daquele lugar. E todos tiveram a certeza que aquele infeliz era quem se transformava no lobisomem da rua da pedreira.
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